A Nuvenzinha Negra








Era uma vez uma nuvenzinha que sempre ficava escondidinha no céu. Ela não queria que ninguém, mas ninguém mesmo, a visse. Essa nuvenzinha não era como as outras que pareciam um chumaço de algodão, flocos de neve ou pelo de ovelha. Ela era uma nuvem muito escura, tão escura que à noite, no cantinho onde ela se escondia, nada se via no céu, nem as estrelas, nem a lua e muito menos o céu acima dela. Ela era negra como a sombra ao fecharmos os nossos olhos.
Quando o dia estava claro, a nuvem ficava observando ao longe como as outras, as nuvenzinhas brancas, deslizavam pelo céu empurradas pelo vento. O reflexo do sol forte, nas nuvens branquinhas, doía os olhos quando se olhava muito para elas. As nuvenzinhas brancas, porém, nem ligavam para o sol forte e pareciam tão felizes brincando assim, umas com as outras. A nuvenzinha negra bem que já tentara brincar com suas amigas branquinhas, mas, ela era tão pesada que não conseguia deslizar como suas amigas. O vento até que a empurrava, mas ela se movia devagar por conta de seu peso. Ela sempre se perguntava:
- Por que será que sou negra e pesada e minhas amigas são tão branquinhas e leves? Ai...ai...ai...queria tanto ser como elas! Poder deslizar pelo céu para lá e para cá, empurrada pelo vento.
Muitas vezes, de seu esconderijo no cantinho do céu, ela podia ouvir as crianças, lá na terra, que ficavam deitadas, com os olhos voltados para o céu, olhando para as nuvens branquinhas. Umas crianças diziam que as suas amigas pareciam um sorvete, outras que elas pareciam algodão doce, outras ainda diziam que eram todas como montinhos de algodão. Mas para ela, a nuvenzinha negra, nenhuma criança nunca olhava. Por isso, ela preferia ficar ali, no seu cantinho do céu, para que ninguém a visse mesmo.
Acontece que, um dia, ela ouviu alguém dizer lá da terra.
- Onde está a nuvenzinha negra? Ela sumiu do céu. Será que não vai aparecer mais?
A nuvem negra não entendeu porque estavam procurando por ela lá da terra e por isso, escondeu-se mais ainda para que ninguém a visse.
Os dias foram passando e as nuvenzinhas brancas se espalhavam ainda mais pelo céu. O céu parecia estar cheinho de flocos de neve brincando ao sabor do vento. Só que as crianças que antes, lá em baixo na terra pareciam felizes brincando de olhar as nuvenzinhas brancas, não pareciam tão felizes como antes. Pareciam procurar alguma coisa no céu, mas, não eram por suas amiguinhas branquinhas. As crianças tinham um olhar triste. A nuvenzinha negra não podia entender o que estava acontecendo. Alguma coisa mudara. Mas, por que seria?
Certa manhã, ao acordar bem cedinho e olhar para a terra, ela ouviu um triste lamento.
- Oh! Nuvenzinha negra! Onde você se escondeu?
A nuvenzinha negra ficou muito assustada e se encolheu toda no seu cantinho. Como o lamento lá na terra continuava, ela saiu devagarinho do seu cantinho e resolveu dar uma olhadinha na terra para ver quem procurava por ela, lá no céu.
Então, do seu esconderijo, ela viu uma linda menina de olhos negros e pele ainda mais negra que brilhavam ao reflexo do sol.  O sol naquela manhã parecia estar ainda mais quente do que nos outros dias. Mesmo com o sol forte a lhe ofuscar os olhos, a nuvenzinha pode perceber que a menina deixava escorrer uma lágrima por sua face.
Então ela ficou ainda mais intrigada. Por que será que a menina chorava e olhava para o céu procurando por ela?
Parecendo responder ao que a nuvenzinha negra tanto queria saber, a menina lá da terra disse:

- Oh nuvenzinha negra, por favor, apareça e faça chover. As plantinhas estão tão tristes e se você não aparecer, com certeza, morrerão.
Então a nuvenzinha entendeu o que a menina queria. Ela esperava que a nuvenzinha escura, negra, aparecesse e fizesse chover molhando as plantinhas da terra. Ela entendeu então porque era tão negra. Ela era uma nuvem de chuva!
Resolveu sair depressa do seu esconderijo e derramar sobre a terra uma chuva bem mansa e gostosa para deixar aquela menina feliz. E assim, fez! Abriu as suas torneirinhas deixando cair sobre a terra os primeiros pingos de chuva. A menina lá da terra começou a chamar seus amiguinhos e todos corriam felizes de um lado para outro tomando um delicioso banho de chuva. A nuvenzinha ficou muito feliz por se sentir útil e entendeu que cada nuvenzinha tem seu valor, seja ela branquinha como a neve ou negra como a noite sem luar e ela, mais que nenhuma outra, era muito querida por todos da terra, pois ela fazia chover molhando as plantas para crescerem fortes e produzir alimento para todas as pessoas.
E assim, a nuvenzinha negra nunca mais se escondeu. Ela queria sempre ser vista por todos e passou a ter muito orgulho de sua cor.
Autoria: Vanda Berger

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