Era uma vez — não faz
muito tempo assim e num lugar não muito longe — um menino que entrou por um
atalho que atravessava uma floresta...
...E foi capturado por
um lobo faminto.
— Que bobinho... —
disse o lobo, sorrindo.
E levou o menino para
sua caverna.
— O que é que você vai
fazer comigo? — perguntou o menino.
O lobo lambeu os
beiços e respondeu:
— Eu vou te comer, é
claro.
— Assim? Cru? —
perguntou o menino.
O lobo urgiu.
— Quer dizer... —
suspirou o garoto — ...Você não vai nem me cozinhar antes?
O lobo pensou um
pouco.
— ...E então... —
disse em seguida — ... O que é que você
sugere?
— Bom, acontece que eu
sei uma receita ótima, de Sopa de Menino.
O lobo, que estava com
fome e também era guloso, mal conseguia se conter.
— Hummmmm!!! — estava
babando. — Do que é que eu preciso?
E o menino disse.
SOPA DE MENINO
Ingredientes:
(para servir um lobo
faminto)
Um menino (de tamanho
médio)
Um caldeirão de ferro
bem grande
Uma tonelada de
batatas
Um montão de cebolas
Uma tina de rabanetes
Uma carroça cheia de
cenouras
Balas de frutas
Um poço cheio de água
Um barril cheio de
tijolos
Uma colher de pedreiro
Modo de fazer:
Primeiro, pegue o
menino.
Lave-o bem,
principalmente atrás das orelhas.
Coloque-o firmemente
dentro do caldeirão de ferro.
Acrescente água,
batatas, cebolas, rabanetes, cenouras e mais as balas de fruta para temperar.
Sente-se no barril de
tijolos e mexa bem, até quinta-feira, usando a colher de pedreiro.
E
lá se foi o lobo atrás de todos esses ingredientes.
Correu de um lado para o outro, para lá e
para cá, para cima e para baixo, daqui para ali, por todo o lado, por todo o
canto.
Quando o lobo voltou, o menino conferiu
tudo.
— Mas que lobo bobo! Você esqueceu o sal! — disse
ele.
O lobo ficou sem graça.
— Você não falou que precisava de sal —
resmungou.
— Bem, mas não fez mal — disse o menino. — Acabei
de me lembrar de um prato ainda mais gostoso, que por caso, não precisa de sal.
A barriga do lobo
começou a roncar muito alto.
— Ótimo! — exclamou. —
Então me diga, me diga!
— Chama-se Pastelão de menino — disse o menino,
jogando uma bala na boca — e é três vezes mais gostoso do que Sopa de menino.
— Hummmm! — fez o lobo.
— Mas você vai precisar de umas coisinhas...
PASTELÃO DE MENINO
Ingredientes:
(para servir um lobo
faminto e mal humorado)
Um menino (que não
seja magro demais)
Uma fôrma de pastelão,
bem grande
Três morrinhos de
farinha de trigo
Uma vaca cheia de
leite
Uma pedação de banha
Seis sacos de cimento
Um carregamento de
alho-poró
Uma tanque de feijão
Um caixote de cenoura
Uma pá
Um chapéu de vaqueiro
Um ioiô amarelo.
Modo de fazer:
1.
Com a pá, misture bem
a farinha, o leite e a banha para fazer a massa.
2.
Deixe o menino, com
todo o conforto, na fôrma de pastelão.
3.
Recheie os bolsos dele
com alho-poró, feijão e cubra com a massa.
4.
Coloque o ioiô no
chapéu e sente-se em cima.
5.
Observe o pastelão de
hora em hora, e depois todos os dias, até dourar.
E lá se foi o lobo
atrás de todos esses ingredientes.
Correu de uma lado
para o outro, para lá e para cá, para cima e para baixo, daqui para ali, por
todo o lado, por todo o canto.
Quando o lobo voltou
esbaforido, soprando e bufando, o menino examinou as mercadorias.
— Mas que lobo bobo! Você esqueceu o sal! — disse
ele. O lobo ficou de pernas bambas.
— Mas você disse que esta receita não precisava! —
resmungou.
— É, só que precisa — disse o menino. — Mas não faz
mal. Acabei e me lembrar do prato mais incrivelmente gostoso que já existiu. E
este não precisa mesmo de sal...
O lobo já estava quase
resolvendo ficar mesmo com menino cru.
Levantou as orelhas...
— Pois então, vamos —
rosnou. — Fale de uma vez!
— Chama-se Bolo de
Menino — disse o menino. — E é dez vezes mais gostoso do que Pastelão de Menino!
— E imagino... — suspirou o lobo, desanimado — ...Que só vou precisar de
umas coisinhas?
BOLO DE MENINO
Ingredientes:
(para ser um lobo
esfomeado e exausto)
Um menino (do tamanho
que você quiser)
Uma bandeira
Um tablete grande de
manteiga
Um latão de lixo cheio
de açúcar mascavo
Cinco baldes de
bombeiro cheios de farinha com fermento
Uma bolsa de ovos
Uma casinha de tijolos
Um carrinho de mão cheio
de nozes
Uma sacola de uvas passas
Uma penca de bananas
Uma bicicleta vermelha
Duas portas de celeiro
Uma praia cheinha de
areia
Um ramo de flores
Modo de fazer:
1. Deixe o menino
vendo televisão num quarto quentinho.
2. Bata a manteiga, a
farinha, o açúcar mascavo e os ovos dentro da banheira.
3. Misture nas portas
de celeiro bananas, uvas passas e nozes.
4. Acrescente com
cuidado a bicicleta, a areia e as flores.
5. Se chover, fique na casinha.
Mais uma vez, o lobo saiu pela floresta. Aos
trambolhões. Tropeçou de um lado para o outro, para lá e para cá, para cima e
para baixo, daqui para ali, por todo lado, por todo canto.
Passou um bom tempo até o lobo voltar, sem fôlego,
debaixo de uma montanha de ingredientes.
O menino olhou, olhou...
— Mas que lobo mais bobo! — disse ele, abanando a
cabeça. — Você esqueceu o sal.
Ouviu-se um barulhão quando o lobo desmaiou.
Caiu o lobo.
Caíram as portas de celeiro.
Caiu a bicicleta.
Caiu a casinha.
Caíram o carrinho de mão, as nozes e as passas.
Caíram os baldes de bombeiro, a manteiga e o latão
de lixo.
Caíram as bananas, os ovos e a areia.
Ainda bem que o menino conseguiu agarrar as flores.
O lobo ficou estatelado.
— Tirando uma soneca no meio da tarde, seu lobo,
que feio... — disse o menino enquanto misturava o cimento, a água e a areia.
— Você devia era fazer mais exercício — continuou
ele enquanto colocava os tijolos um em cima do outro e construía uma parede bem
na entrada da caverna do lobo.
— Mas que lobo mais bobo... — pensou ele, voltando
de bicicleta pela floresta.
Quando ele chegou em casa, sua mãe já estava
esperando.
— Mãe, mãe! — chamou ele. — Peguei um atalho pela
floresta e fui apanhado por um lobo faminto, que me deu estas balas, este
chapéu e uma bicicleta nova. E ainda mandou estas flores para você.
— Pelo jeito, era um sujeito simpático — disse a
mãe. — Agora venha jantar enquanto a comida está quente.
Coisa que o lobo não fez naquela noite.
MORAL DA HISTÓRIA: Nunca se esqueça do sal!
Blundell, Tony. Cuidado com o menino. São Paulo: Editora Moderna, 1999.
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