A Menina dos Brincos de Ouro







Uma Mãe, que era muito severa e rude para os filhos, deu de presente a sua filhinha um par de brincos de ouro.
Quando a menina ia à fonte buscar água e tomar banho, costumava tirar os brincos e botá-los em cima de uma pedra.
Um dia ela foi à fonte, tomou banho, encheu o pote e voltou para casa, esquecendo-se dos brincos.
Chegando em casa, deu por falta deles e com medo da mãe brigar com ela e castigá-la correu à fonte para buscar os brincos.
Chegando lá, encontrou um velho muito feio que a agarrou, botou-a nas costas e a levou consigo.
Então, o velho pegou a menina, meteu ela dentro de um surrão (um saco de couro), coseu o surrão e disse-lhe que ia sair com ela de porta em porta para ganhar a vida e que, quando ele ordenasse, ela cantasse dentro do surrão, senão ele bateria com o bordão (cajado).
Em todo lugar que chegava, botava o surrão no chão e dizia:

Canta, canta meu surrão,
Senão te bato com este bordão.
 
E o surrão cantava: 

Neste surrão me puseram,
Neste surrão hei de morrer,
Por causa de uns brincos de ouro
Que na fonte eu deixei.
 
Todo mundo ficava admirado e dava dinheiro ao velho.
Quando foi um dia, ele chegou à casa da mãe da menina que reconheceu logo a voz da filha. Então convidaram Ele para comer e beber e, como já era tarde, insistiram muito com ele para dormir.
De noite, já bêbado, ele ferrou num sono muito pesado.
As moças foram, abriram o surrão e tiraram a menina que já estava muito fraca, quase para morrer. Em lugar da menina, encheram o surrão de excrementos.
No dia seguinte, o velho acordou, pegou no surrão, botou às costas e foi-se embora. Adiante em uma casa, perguntou se queriam ouvir um surrão cantar. Botou o surrão no chão e disse: 

Canta, canta meu surrão,
Senão te bato com este bordão.
Nada. O surrão calado. Repetiu ainda. Nada.
Então o velho bateu com o cajado no surrão que se arrebentou todo e lhe mostrou a peça que as moças tinham pregado.


Conto popular no Nordeste do Brasil, especialmente na Bahia e Maranhão. Chegou aqui pelos escravos africanos. No original africano os personagens eram animais.


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