A fada que tinha ideias - Capítulo 04 - A chuva colorida







  Outra grande amiga de Clara Luz era a Gota de Chuva.
  Essa vivia sempre viajando, do céu para a terra. Na volta tinha mil histórias para contar. Clara Luz queria saber tudo sobre a terra. Até geografia e história do Brasil a Gota lhe ensinou um pouco.
  Dias depois do aniversário de vermelhinha, Clara Luz, saiu para brincar com a estrela e encontrou-a discutindo com a Gota.
  Clara Luz nunca ficou sabendo a razão da briga. Quando chegou, elas já estavam danadas, dizendo desaforos uma para a outra.
  - Pensa que é linda, assim toda vermelha?
  - E você, que nem tem cor?
  - Cara de tomate!
  - Cara de fantasma!
  - Essa discussão de vocês está me dando uma ideia! - disse Clara Luz.
  Vermelhinha e a Gota esqueceram a briga:
  - Conte depressa! Que ideia é?
  - Vou colorir a chuva.
  Vermelhinha e a Gota acharam a ideia ótima.
  - Você - disse Clara Luz à Gota - fica  encarregada de descer à Terra e depois vir nos contar tudo que aconteceu por lá. Assim que acabar a chuva, evapore-se e volte para cá bem depressa.
  - Está bem, mas só vou com uma condição.
  - Qual é?
  - Poder escolher a minha cor. Você pode me colorir de uma cor que eu não goste.
  - De que cor você quer ser?
  - Amarelinha. Adoro amarelo!
  Vermelhinha deu sua opinião:
  - Se eu fosse você, escolheria azul.
  - Não. Ou vou amarela, ou então não vou.
  Naquele momento a chuva começou a cair.
  - Chegou a hora meninas! - anunciou Clara Luz.
  E, erguendo a varinha de condão, coloriu a chuva.
  Começou a chover de todas as cores: vermelho, azul, amarelo, roxo, verde, alaranjado e mil outras.
  Vermelhinha e a Gota davam pulos de alegria.
  - Agora vá! - disse Clara Luz, para a Gota. - Vá depressa, para depois contar tudo que o pessoal lá da Terra achou dessa chuva.
  - Vou como, se você ainda não me coloriu? Pensa que quero ser a única gota sem cor no meio dessas outras, lindas?
  - Ah! É mesmo!
  E Clara Luz, com um varadinha, fez a Gota ficar amarela. Na mesma hora ela desceu, sem dizer nem até logo.
  As fadas do céu começaram a notar alguma coisa diferente e foram abrindo as janelas, para ver o que estava acontecendo. Quando viam a chuva, quase caíam para trás:
  - Não é possível! Vizinha! Vizinha! Já viu o que esta acontecendo?
  A fada vizinha vinha também para a janela:
  - Não posso acreditar!  Estou vendo uma chuva colorida!
  - É isso mesmo! Foi por isso que eu gritei!
  - Mas quem terá feito uma coisa dessas? Que dirá a Rainha quando souber?
  Foi um escândalo. Ninguém mais conseguiu trabalhar, nem fazer nada. Só se falava na chuva colorida.
  A última a reparar na chuva foi justamente a Fada-Mãe. Estava tão ocupada, arrumando a casa, que não olhou para fora.
  Depois resolveu ir ao jardim, colher umas flores prateadas para a jarra da sala.
  - Tenho alguma coisa nos olhos - pensou ela. -- O que estou vendo, só pode ser defeito da minha vista.
  Nesse momento chegou Clara Luz.
  - Querida, imagine como eu estou mal da vista: estou vendo uma chuva de todas as cores.
  Clara Luz riu:
  - Sua vista é ótima, mamãe.  Está chovendo mesmo. Fui eu que fiz.
  - Clara Luz! Você coloriu a chuva?
  - Colori.
  - Mas com ordem de quem?
  - De ninguém mamãe. Para colorir chuva não  precisa ordem, não. Basta a gente ter a ideia.
  - Mas menina, quem manda aqui no céu não é você, é a rainha.
  - Eu sei, mamãe, então não sei disso? Mas por que a Rainha iria ser contra uma chuva tão bonita? Só se ela for muito boba.
  Ouvindo chamar a Rainha de boba, a Fada-Mãe perdeu a respiração.
  - Por favor, um copo d'água! - pediu ela, com voz fraca.
  Clara Luz foi correndo buscar. Mas em vez de dar a água para a mãe beber, jogou-a na cabeça dela.
  - Não era para jogar na cabeça, Clara Luz, era para beber - disse a Fada-Mãe, toda molhada.
  - Ah! Então desculpe! Vou já buscar outro!
  - Não, obrigada. Não é preciso. Já estou melhorando.
  Realmente, com o banho, a Fada-Mãe melhorara logo. Só estava, ainda, com um pouco de falta de ar.
  - Mamãe, você tem um defeito - disse Clara Luz.
  - Quer saber qual é?
  -- Diga, minha filha.
  - É essa sua falta de ar. Tudo faz você ficar com falta de ar. Tem tanto ar, olha aí!
  A Fada-Mãe olhou:
  - É... ar, há bastante.
  - Pois então? Só fica com falta de ar quem quer. Tem ar até sobrando.
  A Fada-Mãe viu que estava respirando melhor:
  - Engraçado! Sabe que, depois dessa sua explicação sobre o ar, eu estou respirando muito bem?
  - Então estou às ordens. Quando você ficar com falta, pode falar comigo, que eu explico tudo de novo e você melhora.
  A Fada-Mãe voltou para dentro muito intrigada: Nunca vi umas ideias como as dessa menina! Só se ela saiu ao pai, que era o mágico mais inventador da corte do Rei dos Mágicos.



Fernanda Lopes de Almeida



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