Olhinhos Chorões






Era uma vez uma menininha de olhos pequeninos, sobrancelhas perfeitas, rostinho redondo e lábios cor-de-rosa, que gostava de vestidos floridos e de brincar de boneca, seu nome era Lilica.
Lilica era uma menina alegre, falante, vibrante, mas quando chegava a hora de dormir mudava seus modos: ficava calada, com olhinhos preocupados e atentos.
Dizia à mamãe que tinha medo de dormir sozinha em seu quarto. Sua mamãe contava histórias, acariciava seus longos cabelos negros até ter certeza que Lilica adormecera.
Numa noite, depois que a mamãe se retirou Lilica despertou e com os olhos grudados no teto ficou no canto da cama pensando do que exatamente tinha medo.
Quando de repente na sua frente apareceram dois olhos brilhantes apavorados.
Sim, apenas dois olhos, sem boca, sem corpo, sem nariz, sem orelhas, mas com lágrimas no cantinho de cada um.
Lilica olhou para os olhinhos chorões e quase sem medo e com muita pena perguntou:
-Por que chora olhinhos chorões? Você também está com medo?
E os olhinhos piscaram deixando cair mais lágrimas de um jeito tão tocante que Lilica tentou mais uma vez:
-Olhinhos chorões, posso ajudar em alguma coisa?Quem sabe ler uma história?
Minha mamãe sempre conta uma história quando estou com medo? Você está com medo?
E quando fez essa pergunta, embaixo dos olhinhos apareceu uma boquinha linda e chorosa que respondeu:
-Eu sou o Medo...
-Como assim você é o medo?
-Sim, eu sou o Medo muito prazer. Ando por ai escondido, invisível, triste, com medo...
-Ah, pobrezinho e por que está assim tão triste e com medo?
-Eu tenho medo do escuro...Você pode acender a luz?
-Claro, claro.
-Todas as noites fico pensando porque existe escuro – disse o Medo para Lilica.
-Ora para podermos descansar, dar uma pausa, dar um tempo ao nosso corpo, nossa mente, nosso espírito...
-Mas no escuro tudo parece sair do lugar, dá um medoooo!
-É impressão sua, tudo continua no mesmo lugar.
-Tem certeza? Não tem fantasmas no escuro?- perguntou ele olhando para todos os lados com os olhinhos arregalados.
-Não, isso é uma bobagem, fantasmas não existem.
-E não tem mula-sem-cabeça, lobisomem e cuca?- continuou ainda muito assustado.
-Sim eles existem, mas só na floresta, aqui em casa não.
-Ah é? Então não vou mais embora, vou me esconder aqui tá?
-Tá bom. Venha deitar aqui comigo, embaixo de minha cobertas quentinhas.
O Medo atendeu o pedido apressado:
-Hum, que quentinho! Assim não fico com medo de nada.
E com um soninho gostoso, o Medo quase dormindo sussurrou para Lilica:
-Pode apagar a luz por favor?
Lilica, menina corajosa, acolheu o Medo e o colocou para dormir.
Apagou a luz, se ajeitou, dormiu e sonhou com anjos da guarda, dela e do Medo dorminhoco que roncou a noite toda...

Claudia Freire Lima

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