- Mamãe, hoje ponha o seu vestido mais
bonito, que vai haver uma surpresa - disse Clara Luz.
- Surpresa? Aposto que você convidou algumas
amiguinhas para virem brincar e tomar refresco de orvalho. Será isso?
- Nada disso. Muito mais interessante.
À noite, a Fada-Mãe pôs o seu vestido mais
brilhante, para fazer a vontade de Clara Luz.
- Mamãe, que beleza! Você até está parecendo
a Fada das Sete Madrugadas!
- Quem é essa? Não me lembro dela!
- É uma fada que eu inventei.
A Fada-Mãe começou a rir:
- Fada não se inventa, minha filha. Fada
existe ou não existe.
- Pois eu inventei a Fada das Sete
Madrugadas agorinha mesmo e aposto que ela já está existindo. Mas vamos logo,
senão chegamos atrasadas.
- Vamos onde, querida? A surpresa não é aqui em casa mesmo?
Clara Luz riu:
- Não, mamãe. A surpresa é no céu inteiro.
A Fada-Mãe ficou com um pouco de falta de ar:
- Minha filha como é mesmo aquilo que você
explica e que eu melhoro da falta de ar?
Clara Luz explicou e a Fada-Mãe melhorou
logo.
Saíram. Todas as fadas, que tinham vindo para
a festa, já estavam nas arquibancadas de nuvens que Clara Luz tinha feito.
Era lindo vê-las, com seus vestidos dourados,
prateados, azulados, sentadas nas nuvens, esperando a festa. As filhas não
paravam de se remexer e de trocar de lugar.
Assim que a Fada-Mãe se acomodou, ouviu-se
uma forte trovoada. O Senhor Relâmpago, Dona Relâmpaga e os cinco filhos,
entraram e cumprimentaram, como artistas de teatro.
- Cuidado com essa família, que é muito
perigosa! - exclamaram algumas fadas,
que não conheciam Dona Relâmpaga e não sabiam como ela era simpática.
Mas o Senhor Relâmpago começou a cantar. Quem
fizera a canção fora Clara Luz.
Contava todas as viagens do Senhor Relâmpago,
pelas montanhas, cidades e mares. E terminava assim:
Derrubei carvalhos
e queimei florestas.
Quando eu era moço,
não queria festas.
Mas de incendiar,
já estou enjoado.
Quero festejar,
que é mais engraçado!
- Muito bem! Muito bem! Viva o Senhor
Relâmpago! - aplaudiram as fadas, que
nunca tinham reparado que bela era a voz do Senhor Relâmpago.
Ninguém mais estava com medo da família
Relâmpago.
Logo em seguida, o Senhor Relâmpago, Dona
Relâmpaga e os cinco filhos começaram a cantar em coro.
Era a hora do balé de estrelas cadentes.
De todos os cantos do céu, começaram a surgir
estrelas rodopiando.
Só quem viu um balé de estrelas cadentes, com
coro de relâmpagos, pode fazer ideia da beleza que é.
As fadas choravam de emoção.
Mas o ponto mais maravilhoso do bailado foi
quando surgiu a Fada das Sete Madrugadas e começou a dançar com as estrelas.
A família
Relâmpago cantou:
Sete são as madrugadas,
poderiam ser setenta.
As coisas que a gente inventa
são sempre bem inventadas.
A Professora de horizontologia, que estava
entre as fadas convidadas, começou a cantar também:
Mora no oitavo horizonte
um grande leão dourado.
Isso não é muito longe:
é mesmo aqui, ao meu lado.
Na mesma hora o leão dourado apareceu,
sacudindo a juba cor de ouro, e ajoelhou-se, para a Professora montar nele.
Relampinho, entusiasmado, cantou sozinho:
Passarinho de três asas
não é nenhuma bobagem.
Quem inventar um assim
é pessoa de coragem.
Aquele passarinho, que Clara Luz tinha feito
com o bule, veio voando e pousou no ombro dela:
- Sabe de uma coisa? Estou arrependido de
ter querido só duas asas. Você não poderia fazer uma mágica e tornar a me pôr a
terceira asa?
- Eu não. Bem feito para você. Perdeu a
ocasião de ser o único passarinho de três asas que já existiu.
- Mas é que, naquele tempo, eu não sabia que
isso é formidável.
- Bom, vou fazer a mágica. Mas depois não se
queixe, senão eu torno a transformar você em bule.
Clara luz fez a mágica e o passarinho,
contentíssimo, ficou por ali, esvoaçando. Dessa vez foi a Fada-Mãe quem se
levantou e cantou:
Não há mágica malfeita.
Quando a filha põe três asas
e é a mãe que endireita,
a mãe é que está errada,
pois só quem fez a invenção
manda na coisa inventada.
As fadinhas aplaudiram muito a mãe de Clara
Luz. As fadas grandes ficaram na dúvida se batiam palmas ou não.
- Então eu não posso consertar as mágicas
erradas da minha filha, ora essa? - perguntou uma.
- É claro que não. Mágica não se conserta -
respondeu outra.
E começou a aplaudir a mãe de Clara Luz.
Aí as outras fadas se decidiram também. Foi
uma salva de palmas. A Fada-Mãe, que estava linda com o seu vestido mais
brilhante, agradecia sorridente. A Professora de Horizontologia passeava pelo
céu, montada no leão dourado. A Fadas das Sete Madrugadas começou a fazer
madrugadinhas pequenas, espalhadas pelos recantos do céu.
As convidadas começaram a sair das
arquibancadas para tomar parte na festa. Choviam estrelas cadentes por todos os
lados.
A família Relâmpago cantou:
Não há nada mais bonito
que inventar em liberdade
e só tem a vida alegre
quem sabe dessa verdade.
De repente todos os bichos que as fadinhas
tinham feito naquela tarde vieram galopando do horizonte.
As fadas menores deram gritos de alegria. As
mães ficaram sem saber o que fazer.
Os bichos passaram galopando, mas não
pararam. Estavam indo para o palácio da Rainha.
Fernanda Lopes de Almeida
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