A maior amiga de Clara Luz era Vermelhinha,
uma estrela cadente.
Por ser cadente, Vermelhinha podia ir para
onde queria, no céu. E como corriam, ela e Clara Luz, brincando de esconder atrás das nuvens!
- Minha filha, porque você não arranja uma
amiga mais calma. hein? - perguntava a Fada-Mãe, às vezes, tonta com as
travessuras de Clara Luz e Vermelhinha.
Mas perguntava por perguntar, pois também
gostava muito de vermelhinha. Tanto que, no
aniversário da estrela, resolveu dar uma festa.
Vermelhinha ia fazer nove milhões de anos, o
que, para uma estrela, e bem pouco.
Clara Luz, que adorava festas, estava
felicíssima, ajudando a mãe muito direitinho.
Justamente na véspera do aniversário a
Fada-Mãe teve que sair para desencantar uma princesa.
- Não faz mal -- disse ela. - Está quase tudo
pronto. Você pode ir fazendo a massa dos bolinhos de luz, enquanto eu saio.
Acho que já sabe fazê-los sozinha.
- Sei fazer muito bem.
- Ótimo! Amanhã de manhã faço o bolo de
aniversário. É só o que está faltando.
E a Fada-Mãe, abrindo as asas cor de
prata, saiu voando pela janela.
Clara luz correu para a cozinha e abriu o
livro de receitas na página dos bolinhos:
"Bolinhos de Luz
250 gramas de raios de sol. 250 gramas de
raios de luar.
Uma colher de chá de fermento de relâmpago.
Maneira de fazer: mistura-se bem os raios de
sol e de luar até saírem faíscas. Junta-se então o fermento de relâmpago."
- Que fácil! -- pensou Clara Luz. - Não sei
como certas pessoa podem achar difícil fazer bolo!
E foi tirando os raios de sol e de luar das
latas onde estavam guardados, nas prateleiras. Despejou tudo num tacho e mexeu,
como a receita mandava. A cozinha inteira começou a brilhar!
Quando chegou a hora do fermento, Clara Luz
teve uma ideia:
- Fermento é que faz o bolo crescer. Se, em
vez de uma colher de chá, eu puser um relâmpago inteiro, vai sair um bolão
enorme. Mamãe amanhã nem vai precisar fazer o bolo das velas.
É claro que não havia relâmpago inteiro em
casa. Clara Luz não se atrapalhou:
- O jeito é eu ir para a janela e pescar o
primeiro que passar.
Mas não foi fácil. Nenhum relâmpago
concordava em entrar no bolo:
- Eu não, ora essa! Tenho mais o que fazer!
Afinal passou uma família inteira de
relâmpagos: pai, mãe e cinco filhos. Ninguém deu confiança a Clara Luz. O menor
de todos, um relempagozinho muito esperto, ia no fim da fila.
- Psiu! -- chamou Clara Luz. - Você que
entrar no meu bolo?
-- Eu não, que não sou bobo. Pensa que quero
ser comido em festa de aniversário?
Clara Luz pensou um pouco:
- Você
entra e depois sai. É só para fazer o
bolo crescer.
O relampagozinho começou a gostar da ideia:
- Puxa! Deve ser divertido mesmo!
- Garanto que você vai adorar. Até podemos combinar assim: no meio da festa
você pula de dentro do bolo e dá um susto danado em todos.
O relampagozinho caiu na risada:
- Vai ser formidável! Aceito.
E largou os irmãos, que foram indo atrás dos
pais, sem perceberem nada. Relampejou direto para a cozinha, numa correria
louca.
- Preciso ir depressa para ensiná-lo a entrar
no bolo direito - pensou Clara Luz.
Mas quando chegou à cozinha ele já estava
mergulhado na massa, sem esperar explicação nenhuma. Foi uma beleza! A cozinha se iluminou até o teto.
Clara Lua teve que tapar os olhos. Quando os abriu o relampagozinho tinha
desaparecido.
- Agora só o verei de novo amanhã, quando ele
pular de dentro do bolo. Nunca vi ninguém tão afobado!
O forno já estava aceso e Clara Luz tratou de
pôr o bolo lá dentro.
- Capriche, sim? Faça o bolo crescer bem! -
gritou ela para o relampagozinho, antes de fechar a porta.
Depois foi para a sala brincar e esperar o
bolo ficar pronto.
Não se passaram nem cinco minutos e começaram
a sair faíscas pela porta da cozinha.
Clara Luz correu para ver o que era.
A massa tinha espirrado para fora do forno e
estava escorrendo pelo chão, como um rio de luz.
- Meu Deus! Era para crescer, mas não tanto
assim! - exclamou Clara Luz.
A massa continuou a crescer. Da cozinha
passou para a sala, da sala para o quarto. A casa inteira brilhava.
Afinal a massa começou a espirrar pelas janelas
e a pingar para fora da Via Láctea.
Foi um reboliço. Todas as fadas do céu vieram
para as janelas de suas casas de nuvens:
- Olha só o chuveiro de luz que está saindo
lá da Via Lactea!
- Será que é alguma mágica?
- Não pode ser. Não existe nenhuma mágica
assim no Livro das Fadas!
- Existe sim, na página vinte e três.
Foram todas ver na página vinte e três. Enquanto isso Clara Luz gritava:
- Socorro! Não sei fazer isso parar.
- Ela está pedindo socorro! Vê depressa a
página vinte e três!
- Olha aqui, olha.
Todas olharam: a página vinte e três ensinava
a transformar abóbora em carruagem. Ninguém ficou sabendo nada sobre aquela mágica que estava
acontecendo na Via Láctea.
- Não está no Livro. Não podemos fazer nada.
E as fadas coitadas, olhavam umas para as
outras assustadíssimas. Elas nem queriam pensar no que aconteceria a Clara Luz se a Rainha das Fadas
soubesse daquilo tudo.
Justamente naquele momento vinha chegando a
Fada-Mãe, linda como um pássaro de prata.
Quando viu aquele clarão enorme saindo de sua
casa, quase morreu de susto:
- Minha filha! Onde você está?
- Estou aqui, mamãe. Faça uma mágica
depressa! Não sei o que vou fazer com essa massa. Vai acabar pingando lá na terra!
A Fada-Mãe, resolveu, pela primeira vez na
vida, fazer uma mágica que não era do Livro. Com Três varadinhas da vara de
condão, fez a massa de luz dançar um bailado no ar e virar um cometa .
E como era rápido! Sendo um cometa com
relâmpago dentro, corria numa tal velocidade que nem era possível enxergá-lo
direito. Só se via o rastro brilhante que ele deixava no céu.
- Puxa, mamãe! Você quando quer faz cada
mágica! - exclamou Clara Luz entusiasmada. - Pena você perder tanto tempo
encantando e desencantando princesas!
A Fada-Mãe estava se abanando, sem voz para
falar. E como não sabia que o cometa tinha relâmpago dentro, não estava
entendendo por que ele corria com tanta velocidade.
- Minha filha - disse ela, assim que pôde
fazer - por que você tem tantas ideias, hein? Seria tão bom se tivesse
menos...
Fernanda Lopes de Almeida
Qual era o problema que acontecia na casa das fadas
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