Todas as amigas da mãe de Clara Lua levaram
suas filhas ao aniversário de Vermelhinha.
Na hora de acender as velas do bolo, quando
todos iam começar a cantar parabéns, ouviu-se uma barulheira na porta, A Fada-Mãe, foi abrir.
Entrou a Senhora Relâmpaga, mãe do
relampagozinho que Clara Luz tinha metido na massa dos bolinhos.
- Só quero saber o que fizeram do meu filho! -
berrou ela, com as mãos na cintura. - Fui informada de que foi aqui, nesta
casa, que ele entrou.
As fadas, mortas de medo, começaram a chamar
as fadinhas para perto. A Senhora Relâmpaga era conhecida pelo seu mau gênio.
- Mas minha senhora, de que filho a senhora
está falando? Eu não sei de nada! - disse a Fada-mãe.
- Não se faça de boba! - respondeu a Senhora
Relâmpaga. - Pensa que pode ir transformando o filho dos outros em cometa e que
depois fica tudo por isso mesmo? Está muito enganada. Ou me devolvem o meu
filho já, ou queimo tudo nesta casa!
E, para mostrar do que era capaz, deu uma
relampejada e queimou diversos móveis.
Foi uma correria. As fadas mais medrosas
começaram a se esconder, embaixo da mesa, atrás do sofá.
- Cometa? - perguntou a Fada-Mãe, cada vez
mais espantada. - Juro à Senhora que nunca transformei filho de ninguém em
cometa!
- Transformou sim, mamãe, não se lembra? -
perguntou Clara Luz, muito lampeira. - Foi ontem mesmo, de noite, que você
transformou o filho dela em cometa.
- Eu?
- É, sim. Esqueci de lhe contar, mas ele está
dentro da massa dos bolinhos. Por isso é que a massa cresceu tanto.
Ouvindo isso, a Senhora Relâmpaga quase
incendiou a casa toda:
- Vou dar queixa à Rainha das Fadas! Essa
menina vai receber um castigo que ela vai ver só!
A Fada-Mãe ficou com falta de ar e as amigas
mais corajosas vieram abaná-la. As fadinhas começaram a chorar.
Só Vermelhinha e Clara Luz não choraram. Elas já estavam perdendo a paciência com a
Senhora Relâmpaga.
- Sabe de uma coisa? - gritou Clara Luz. -
Não tenho medo nenhum das suas queixas.
Pode ir dar queixa. E que modos são esses de entrar na casa dos outros? Não tem
educação?
A Senhora Relâmpaga, que estava habituada a
berrar sozinha, ficou tão espantada que parou de relampejar.
- É isso mesmo - gritou Vermelhinha. - A
senhora devia estar muito contente de ter um filho cometa e em vez disso ainda
vem reclamar! Na minha família sempre quisemos que nascesse um cometa e
nunca nasceu nenhum.
- É? - perguntou a Senhora Relâmpaga,
admirada.
- Claro que é. Ter um filho cometa é o mesmo
que ter um filho príncipe, ou até rei.
A Senhora Relâmpaga começou a ficar
orgulhosa.
Mas depois enxugou uma lágrima:
- O caso é que fico com muita saudades dele - explicou ela. Desde que virou cometa, não
apareceu mais.
Clara Luz e Vermelhinha olharam uma para a
outra:
- Coitada! Nesse ponto ela tem razão.
- É mesmo! Que adianta ter um filho príncipe
e nunca ver esse filho?
Clara Luz não se atrapalhou:
- Pode deixar, Dona Relâmpaga. Assim que
mamãe melhorar, vou pedir para ela tirar
o seu filho de dentro do cometa.
A Senhora Relâmpaga ficou satisfeitíssima:
- Pensei que isso não fosse possível!
- É possível, sim. Dá um pouco de trabalho,
mas é possível. Mamãe é formidável em mágicas. Faz cada uma que só a senhora
vendo!
- Enquanto espera, aceita um refresco de
orvalho? - ofereceu vermelhinha.
Dona Relâmpaga aceitou e gostou muito. Quando a Fada-Mãe melhorou, Vermelhinha,
Clara Luz e Dona Relâmpaga estavam conversando, muito amigas.
- Não é possível! Será verdade o que estou
vendo? - exclamou a Fada-Mãe, que esperava ter muito trabalho ainda, para
acalmar Dona Relâmpaga.
- É verdade sim, mamãe. Dona Relâmpaga já
entendeu tudo. Agora você vai ter que tirar o filho dela de dentro do cometa.
- É um favorzinho que lhe peço - disse Dona
Relâmpaga. - A senhora compreende, sei que é uma honra ter um cometa na
família, mas sinto muita falta dele.
- Perfeitamente, Dona Relâmpaga. Eu não sabia
de nada disso. Foi tudo ideia da minha filha.
Foi então que começou a maior correria que já
houve no céu. Tirar o relampagozinho de dentro do cometa não era nada. O
difícil era pegar o cometa.
Todas as fadas e fadinhas convidadas tomaram
parte no pega-pega. Espalharam-se por todos os cantos do céu, para cercar o
cometa:
- Lá vai ele!
- Sumiu!
- Apareceu! Olha lá!
Foi uma verdadeira caçada. O cometa voava
pelo céu, com uma quantidade de fadas atrás.
De repente, ele começou a ir para os lados do
palácio da Rainha. A gritaria das fadas foi tão grande que ele, felizmente,
mudou de rumo. Todas respiraram,
aliviadas.
Dona Relâmpaga, que também era muito veloz,
corria quase tanto quanto o cometa. Mas ele, como tinha um
relampagozinho-criança dentro, conseguia correr sempre um pouco mais. Dona
Relâmpaga já tinha certa idade e era um pouco gorda.
Afinal quem conseguiu agarrar o cometa, pela
cauda, foi Clara Luz. Ele ia com tanta velocidade que ainda arrastou a fadinha
por uns dois quilômetros. Mas acabou parando.
- Ufa! -
suspirou Clara Luz, arrastando o cometa, de volta para casa. - Se eu soubesse
que esse relampagozinho ia dar esse trabalhão nunca o teria convidado para
entrar no meu bolo!
Foi uma sensação a chegada de Clara Luz. As
fadas todas se reuniram no jardim, para ver o relampagozinho sair do cometa.
Dona Relâmpaga começou a chorar de alegria:
- Estou tão comovida como no dia em que ele
nasceu - disse ela para Vermelhinha.
A Fada-Mãe moveu a varinha de condão, disse
umas palavras mágicas, e o relampagozinho pulou para fora do cometa, com uma
cara muito estonteada, como quem acaba de acordar:
- Ué! Que foi que aconteceu?
Foi preciso explicar tudo a ele. Não se
lembrava de nada, nem da hora em que entrara no bolo.
As fadinhas estavam encantadas com o
relampagozinho. Puseram logo nele o apelido de Relampinho. E até briga saiu,
para decidir quem o poria no colo
primeiro.
Relampinho, assim que o estonteamento passou,
saiu numa correria louca, como sempre. As fadinhas saíram todas atrás, brincando
de pegar.
As fadas grandes foram para a sala, com Dona
Relâmpaga.
O resto da festa foi ótimo.
Na hora de ir embora, Vermelhinha agradeceu
muito à Fada-Mãe:
- Nunca me diverti tanto no meu aniversário!
Agora, sempre que fizer anos, vou convida e pelos menos um relâmpago.
- Eu também - disse Clara Luz. -- A festa
fica muito mais animada.
Dona Relâmpaga despediu-se também, com muitos
agradecimentos:
- A senhora queira desculpar ter queimado os
móveis - disse ela à Fada-Mãe. - É que estava louca de saudades e eu, quando
estou com saudades, queimo tudo ao meu redor.
Fernanda Lopes de Almeida
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