O Segredo de Vovó Jovina







O dia estava triste, o céu chorava como criança! Na janela estava ela, Arabela. Linda menina de olhos azuis, cabelos negros com cachinhos parecidos com molinhas de colchão. 
Arabela estava chateada, pois não podia brincar no quintal com as amigas.
A vovó tentou animá-la com deliciosos bolinhos de chuva e nada de sorriso no rosto da menina bela. Então, vovó Jovina lembrou de um segredo que escondia consigo desde criança. Um segredo bem segredo, daqueles que não se revela a ninguém.
-Arabela querida porque está assim tão triste?
-Ah vovó, não gosto de chuva, não posso brincar lá fora.
-Mas a chuva é necessária... para molhar as plantas, para repor as águas dos rios, mares e oceanos, para equilibrar a temperatura, umidificar o ar... blá blá blá...
- Já sei de tudo isso vovó, mas sou criança, não quero ficar presa aqui.
Vovó Jovina com um sorriso para dentro, calmamente começou a revelar a Arabela o segredo que estava além da janela.
-Querida Arabela, você tem razão, quando chove é para o bem de tudo e de todos, mas o que você ainda não sabe, não sei se devo contar... - disse vovó coçando a cabeça com os cabelos enrolados num lenço que combinava com o vestido florido.
Arabela olhou para a vovó com olhos curiosos.
-Conte vovó, conte, o que está querendo revelar?
-Carrego comigo um segredo desde criança. Num dia de chuva eu estava também aborrecida e chorosa quando minha avó pediu que eu olhasse direitinho para cada pingo de chuva. Eu olhava, olhava e não via nada. Ela dizia:
-Olhe com olhos encantados querida e verá o que a chuva trás para meninas encantadas como você.
-Então me concentrei, deixei de lado a bronca por estar chovendo e tentei olhar com olhos encantados e vi...
-O que vovó, o quê? Conte-me por favor. – falava Arabela ansiosa e exultante.
-Olhe pela janela querida Arabela, com olhinhos encantados e descubra você mesma.
Arabela em pé na cadeira olhou para a chuva com afeto, alegria e olhos encantados e aos poucos foi ficando rosada de contentamento. Em cada pingo de chuva havia um rosto de fada, os pingos eram muitos, então havia fadas de todos os jeitos, com rostos pintados, brilhantes, negros, transparentes e todas elas com um sorriso lindo nos lábios.
-Vovó Jovina estou vendo, estou vendo, são fadas, são fadas, elas estão por toda parte, vou até lá, quero uma para mim.
-Não Arabela, não saia, as fadas são livres, gostam da chuva, além do mais você irá se resfriar se sair. Vou adiantar o jantar e não quero que saia, entendido?
-Sim vovó. – respondeu Arabela não muito convincente.
Assim que vovó Jovina foi para a cozinha Arabela resolveu que sairia pela janela, assim a vovó nem perceberia, pegaria uma fada e voltaria. Tentou abrir a janela, uma janela antiga dessas chamadas “janela guilhotina”. A janela era muito pesada e caiu nas mãozinhas de Arabela. A pobre menina desmaiou sem ao menos dar um grito.
Quando acordou estava em um lugar tranquilo, deitada em uma cama macia, cheirosa, um lugar encantador. Suas mãozinhas estavam enlaçadas em um pedaço de seda oriental com sementes de cardamomo.
-Que lugar é esse? Será um hospital?
Antes de concluir o pensamento suas perguntas foram interrompidas por uma linda moça.
-Olá Arabela, está se sentido melhor?
-Estou, o que houve comigo. Que lugar é esse? Onde está minha vovó?
-Calma querida, você está protegida aqui. Cuidamos de suas mãozinhas. Seus dedinhos foram fraturados, você desmaiou de dor e a trouxemos para cá.
-Você é uma fada?
-Sim, meu nome é Branca, cuido de crianças com ossinhos fraturados.
-Você é uma fada médica?
-Quase isso.
Do lado de fora do quarto mil olhinhos curiosos espiavam querendo entrar e ver a menina de perto. Eram fadas e conversavam numa linguagem engraçadinha e deliciosa de ouvir.
-Podem entrar fadinhas curiosas, ela já está melhor e poderá voltar para casa, vovó Jovina logo a encontrará caída no chão.
As fadas entraram e tocaram Arabela, olhavam e sorriam, beijavam suas mãos, faziam barulhinhos com suas asinhas, um barulhinho “bom” parecido com um sininho. De repente ouviram um sino mais alto e seco, todas silenciaram e deram passagem a uma fada quase transparente, de olhos enormes e dedos longos. Trazia em uma das mãos uma bengala de diamantes e por onde passava deixava um suave cheiro de baunilha. Arabela logo percebeu que se tratava da Rainha das Fadas.
-Arabela, vejo que está melhor, que bom. É hora de ir, mas antes gostaria de avisá-la para tomar cuidado quando desobedecer sua avó, na maioria das vezes ela sabe o que está dizendo. Sua avó já está idosa e não poderia sair por ai com você no colo, embaixo de chuva atrás de um médico, por isto resolvemos cuidar de você.
-Obrigada senhora, fiquei tão encantada quando vi o rosto das fadas nos pingos de chuva, queria pegar uma para ser minha, guardar no meu quarto...
-Entendo querida, mas não podemos ter tudo que queremos. As fadas são seres encantados e livres, nunca seremos de ninguém. Agora feche os olhos, durma, quando acordar estará em casa.
Arabela agradeceu a todas e fechou os olhinhos, mas continuou ouvindo o burburinho das fadas por um tempo até tudo ficar em completo silêncio. Quando abriu os olhos estava caída no chão ao lado da janela.
-Arabela minha filha o que houve?
-Nada vovó, só tentei abrir a janela e ela quase caiu em meus dedos. Desculpe vovó eu não a obedeci...
-Oh, querida já avise várias vezes para não mexer nessa janela, preciso trocá-la urgente, é do tempo de minha avó. Deixe-me ver como estão suas mãos.
A vovó olhou, olhou e nada encontrou, as fadas haviam feito um trabalho perfeito.
Já não chovia e Arabela pôde sair correndo para o quintal. Quando olhou para o céu viu longe um arco-íris com várias fadas sentadinhas mandando beijinhos.
A partir de então Arabela também carregava um segredo “Fadas existem e colam dedinhos”.


Cláudia Freire “Lima”

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