O
Bode foi ao mato procurar lugar para fazer uma casa. Achou um sítio
bom. Roçou-o e foi-se embora.
A Onça que tivera a mesma ideia,
chegando ao mato e encontrando o lugar já limpo, ficou radiante. Cortou
as madeiras e deixou-as no ponto.
O Bode, deparando a madeira já pronta,
aproveitou-se, erguendo a casinha. A Onça voltou e tapou-a de
taipa. Foi buscar seus móveis e quando regressou encontrou o Bode
instalado. Verificando que o trabalho tinha sido de ambos, decidiram
morar juntos.
Viviam
desconfiados, um do outro. Cada um teria sua semana para caçar. Foi
a Onça e trouxe um cabrito, enchendo o Bode de pavor. Quando chegou a vez
deste, viu uma onça abatida por uns caçadores e a carregou até a casa,
deixando-a no terreiro. A Onça vendo a companheira morta, ficou
espantada:
—
Amigo Bode, como foi que você matou essa onça?
—
Ora, ora… Matando!… Respondeu o Bode cheio de empáfia.
Porém, insistindo
sempre a Onça em perguntar-lhe como havia matado a companheira, disse o Bode:
—
Eu enfiei este anel de contas no dedo, apontei-lhe o dedo e ela caiu morta.
A
Onça ficou toda arrepiada, olhando o Bode pelo canto do olho. Depois de
algum tempo, disse o Bode:
—
Amiga Onça, eu lhe aponto o dedo…
A
Onça pulou para o meio da sala gritando:
—
Amigo Bode, deixe de brinquedo…
Tornou
o Bode a dizer que lhe apontava o dedo, pulando a Onça para o meio do
terreiro. Repetiu o Bode a ameaça e a onça desembandeirou pelo mato a
dentro, numa carreira danada, enquanto ouviu a voz do Bode:
—
Amiga Onça, eu lhe aponto o dedo…
Nunca
mais a Onça voltou. O Bode ficou, então, sozinho na sua casa, vivendo de
papo para o ar, bem descansado.
Em:
Contos tradicionais do Brasil (folclore), Luís da
Câmara Cascudo, Rio de Janeiro, Edições de Ouro: 1967
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