- Estou com vontade de organizar um teatro
aqui no céu. Acham que é boa ideia? - perguntou Clara Luz a Vermelhinha e à
Gota, alguns dias depois.
- Quero ser a artista principal! - gritou logo Vermelhinha.
- Não. Eu é que vou ser -- disse a Gota.
- Então não entro - respondeu Vermelhinha.
- Melhor. Não faz falta nenhuma.
Já ia começar a briga das duas. Mas Clara Luz
explicou à Gota:
- Vai ser um balé só de estrelas
cadentes. Desta vez, você não vai poder
entrar.
Vermelhinha pôs a língua para a Gota:
- Bem feito - sua amarelenta!
- Cara de tomate amassado! - respondeu a
Gota.
Clara Luz interrompeu:
- Você vai me ajudar a organizar a festa -
disse ela para a Gota. - Preciso de uma ajudante.
A Gota ficou louca para ajudar, mas se fez de
rogada:
- Não sei se vou poder. Ando muito
ocupada. Mas conte de uma vez como vai
ser esse teatro.
- Vai ser assim: eu faço uma mágica e todas
as estrelas cadentes vêm correndo para
cá. Então eu ensaio o balé com elas. Aí peço a Dona Relâmpaga para vir, com o
marido e os filhos, fazer a música.
- Dona Relâmpaga não sabe música!
- Não sabe agora, mas vou ensaiar e eles vão
acabar sabendo. Todos naquela família tem uma voz muito bonita.
- Bom, eu ajudo - disse a Gota. - Mas só
desta vez. Outra festa que você der, quero ser a artista principal.
Clara luz prometeu.
- Então vamos já à casa de Dona Relâmpaga,
convidá-la para cantar na festa - propôs a Gota.
Foram. Dona Relâmpaga morava num lugar muito
alto no céu, numa casa preta, cheia de corredores escuros.
Vermelhinha e Clara Lua, que já eram amigas
dela, não tiveram medo nenhum.
Mas a Gota, quando viu aquele pretume de
casa, não quis entrar:
- Podem ir vocês duas. Eu estou com calor e
vou ficar aqui fora, tomando fresco.
- Há! Há! - riu Vermelhinha. - Você está é
com medo.
- Medo? Lembre-se que eu sou uma gota de
chuva e já andei nas maiores tempestades.
- Que mentira! Nunca vi você em tempestade
nenhuma.
Uma voz trovejou, lá dentro dos corredores:
- Quem esta aí?
A Gota quase morreu de susto. Era a voz do
Senhor Relâmpago, que falava ainda mais grosso que Dona Relâmpaga.
- Somos nós, Senhor Relâmpago. Podemos
entrar? - perguntou Clara Luz.
- Oh! As amiguinhas do meu filho! Entrem!
Entrem!
E o Senhor Relâmpago veio abrir a porta.
Que barulheira fazia aquela porta, para
abrir! Era um barulho de mil trovoadas.
A Gota não estava com vontade nenhuma de
entrar, mas entrou só para fazer pirraça a
Vermelhinha.
Dona Relâmpaga veio lá de dentro, soltando
faíscas de alegria:
- Queridas! Que prazer! Vocês vão jantar
conosco!
Na casa de Dona Relâmpaga só se jantava fogo.
Clara Luz sabia disso, de modo que disfarçou:
Fica para outro dia, Dona Relâmpaga. Hoje não
posso. Mamãe está me esperando. Vim só para fazer um convite.
- Que bom! Adoro convites!
- É para a senhora e toda a sua família
cantarem na minha festa.
O Senhor Relâmpago soltou uma grossa
gargalhada:
- Minha boa menina, eu não sou cantor, nem
nunca fui. Eu só sei berrar.
- Justamente. Eu tenho observado os seus
berros e descobri que o senhor tem uma voz muito bonita. Então resolvi fazer um teatro com o senhor e
a sua família cantando.
O Senhor Relâmpago quase caiu para trás, de
tanto rir. O riso dele era tão forte que fazia a casa toda tremer.
- Que ideia menina! Eu agora, depois de
velho, virar artista de teatro!
- Por que não, Senhor Relâmpago? E depois, o
senhor não está tão velho assim. Acho o senhor ainda bem moço.
- Minha filha, quando eu era moço descia à
Terra e derrubava um carvalho de uma vez só. E ainda voltava a tempo de jantar,
com a mulher e as crianças.
- Pois é. Mas agora chega. Agora o senhor
precisa aproveitar a sua bonita voz.
O Senhor Relâmpaga rebolou-se de rir:
- Que menina! Quando ela cisma com uma
coisa!
Dona Relâmpaga estava louca para cantar na
festa:
- Aceite, querido! Você precisa se distrair!
- Até você, mulher? Não tem juízo na cabeça?
Mas tanto Dona Relâmpaga e Clara Luz
insistiram, que ele acabou aceitando:
- Está bem, está bem, então vou. Mas não se
queixem se eu estragar a festa. Já disse que não sei cantar.
Clara Luz deu pulos de alegria:
- Muito obrigada, Senhor Relâmpago! Vai ser
a festa mais interessante que já houve aqui no céu. Então amanhã de tarde eu
volto aqui, para ensaiarmos.
Dona Relâmpaga foi levar as meninas até o
portão:
- Adeus, queridinhas! Vão direitinho para
casa.
- Que família simpática! - comentou a Gota. - Hoje
descobri que não se deve ter medo de ninguém só pelo barulho.
Fernanda Lopes de Almeida
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