A Rainha estava na sala do trono, rodeada
pelas damas de honra e pelas fadas conselheiras.
As fadas conselheiras eram as mais
importantes da corte. Ganhavam duzentas mil estrelinhas por mês, só para dar
conselhos. Era um emprego fácil, porque elas aconselhavam sempre as mesmas
coisas.
Naquele dia a Rainha estava de muito mau
humor.
As damas e conselheiras não sabiam mais o que
fazer para distraí-la. Agora estavam todas reunidas ao redor do trono, muito
caladinhas, porque tudo que diziam aborrecia a Rainha.
Mas o silêncio também não adiantou.
A Rainha bateu no chão com o cetro, que é uma
espécie de bengala que as rainhas usam:
- Façam alguma coisa! - berrou ela.
- Mas o que Vossa Majestade quer que
façamos? - perguntaram as fadas, gaguejando de tão atrapalhadas. - Diga e
faremos!
A Rainha não sabia o que queria, de modo que
ficou mais furiosa ainda. Então berrou para as conselheiras:
- Vocês não são conselheiras? Que estão
esperando? Aconselhem!
- Mas aconselhar sobre que assunto, Majestade?
- Não interessa! Aconselhem imediatamente ou
serão despedidas.
Com medo de perder as duzentas mil
estrelinhas por mês, as conselheiras trataram de aconselhar a toda pressa:
- Eu aconselho juízo, capricho na caligrafia
e nunca pôr os cotovelos em cima da mesa! - disse a primeira, muito afobada.
- Eu aconselho cuidado com a saúde, porque a
saúde em primeiro lugar! -- disse a segunda, com uma reverência.
- Eu aconselho que se faça, sem pensar, tudo
que a Rainha mandar! - disse a terceira, rimando sem querer.
- Eu aconselho muita disciplina e aconselho
que Vossa Majestade arranje um apito - disse a quarta.
- Um apito para quê? - berrou a Rainha.
- Porque sempre é mais fácil conseguir
disciplina com um apito.
A Rainha ficou vermelha de raiva:
- Nunca ouvi conselhos mais idiotas na minha
vida! Aconselhem direito ou deixaram de ser conselheiras, hoje mesmo!
- Mas, Majestade, o que é aconselhar
direito? - perguntaram as fadas,
tremendo de medo.
- Se eu soubesse não precisaria de
conselheiras na corte! - gritou a Rainha. - Quem tem obrigação de saber são
vocês.
As fadas, muito nervosas, trataram de
combinar, em voz baixa, o que iam fazer:
- Vamos experimentar aconselhar tudo ao
contrário, para ver se ela gosta - decidiram elas, afinal.
- Majestade, pensando melhor, eu aconselho
que todos saiam por aí, virando cambalhotas e quebrando o que estiver no
caminho - disse a primeira.
- E eu - disse a segunda - aconselho falta
de disciplina, nunca pentear os cabelos e pisar o pé do vizinho sempre que for
possível.
A Rainha atirou o cetro em cima das
conselheiras, que fugiram para o outro lado do salão:
- Estão despedidas! Desapareçam das minhas
vistas imediatamente!
Nesse momento, uma tromba de elefante entrou
pela janela.
- Que está acontecendo neste palácio? -
gritou a Rainha. - Enxotem essa tromba imediatamente!
As damas de honra, que não tinham sido
despedidas, atreveram-se a dizer:
- Majestade, vai ser muito difícil enxotar
essa tromba, porque atrás da tromba deve haver um elefante.
- Não digam tolices! Não pode haver
elefante nenhum aqui no céu, porque eu
nunca dei licença para haver.
As damas de honra baixaram os olhos:
- Isso é verdade, Majestade. Então, com
certeza, estamos enganadas.
Nesse instante ouviu-se um relincho e um
cavalinho cor de fogo entrou galopando no salão. Logo atrás dele veio uma
girafa, muito engraçada, que parecia ser ainda filhote.
As damas de honra correram para as janelas
e avisaram para dentro, assustadas:
- Está vindo uma quantidade de bichos! Até
leão!
Fechem tudo! - berrou a Rainha. - Que estão
esperando?
As damas e conselheiras correram para fechar.
Quando chegou a vez da janela do elefante,
não foi possível. Por mais que pedissem,
com bons modos, para ele tirar a tromba, o elefante não dava a menor confiança.
A Rainha atirou-lhe o cetro em cima,
mas, pela primeira vez, isso não
adiantou nada. Ao contrário. O elefante curioso, enfiou a cabeça toda na
janela, para ver o cetro de perto.
- Esse elefante está despedido! - berrou a
Rainha.
Mas o elefante, como não ganhava duzentas mil
estrelinhas por mês, não se importou de estar despedido.
Enquanto isso, lá fora, ouviam-se as vozes
dos outros bichos, que estavam querendo entrar no palácio.
- Que faremos, Majestade? - perguntaram as
damas de honra.
- Perguntem às conselheiras! Que adianta
haver conselheiras na corte se, nessas ocasiões, elas não aconselham nada?
- Elas foram despedidas, Majestade.
Lembra-se?
- Não me lembro de nada. Chamem as
conselheiras imediatamente!
As conselheiras, contentíssimas por não terem
perdido o emprego, apressaram-se a vir aconselhar:
- Eu aconselho que se faça de conta que
esses bichos não existem - disse uma.
- Eu aconselho que se mande construir uma
jaula, para prender todos eles - disse outra.
- Enquanto se constrói a jaula, que faremos
com os bichos? - perguntou a Rainha.
A segunda conselheira não soube responder.
A Rainha ia ter um acesso de raiva, mas o
teto do palácio se abriu e entrou voando
a Fada Mensageira.
A Fada Mensageira era o correio da Rainha.
Tinha aquele hábito: entrava sempre pelo teto.
- Até que enfim uma fada útil neste palácio!
- exclamou a Rainha. - Essa, pelos menos, faz alguma coisa! Traz muitas cartas?
- Não, Majestade. Desta vez só trago uma.
Vem da Terra e parece muito esquisita.
E entregou à Rainha um envelope todo
amarrotado.
A Rainha abriu-o e leu a seguinte carta:
Majestade,
Vossa majestade está proibida de colorir a
minha casa. Eu já disse que detesto coisas bonitas. Outra vez que vossa
majestade quiser me embelezar ou embelezar a minha casa, vossa majestade vai se
arrepender. Depois não diga que não avisei.
Bruxa Feiosa
- Quem é essa maluca? - quis saber a
Rainha. - Que bobagem é essa de colorir casa? Não estou entendendo nada!
As damas e conselheiras, que sabiam de tudo
sobre a chuva colorida, começaram a pensar depressa o que iam dizer para
disfarçar.
Foi quando a porta do salão caiu. A bicharada,
que estava lá fora, tinha conseguido derrubá-la.
Até a Rainha, que já era velha, pulou do
trono e saiu correndo com a coroa na mão.
Um leão dourado correu atrás dela, como quem
quer dar alguma notícia. A Rainha não entendeu isso e jogou-lhe a coroa no
focinho.
O leão, ofendido, foi-se embora e a Rainha
avisou as outras fadas:
- Estão todas proibidas de desmaiar!
As fadas, que iam justamente desmaiar naquela
hora, não tiveram outro remédio senão continuar a correr.
Foi tolice tanta correria. Os bichos só
queriam ver como era um palácio por dentro. Depois que viram tudo, saíram,
galopando, sem fazer estrago nenhum.
Mas uma Rainha, quando é obrigada a descer do
trono correndo, e ainda por cima com a coroa na mão, não pode perdoar isso
nunca.
As fadas
viram que ia acontecer alguma coisa muito séria. De sobrancelhas
franzidas e com um olhar terrível, a Rainha ordenou às damas de honra:
- Mandem chamar todas as fadas do céu, para
uma reunião aqui no palácio, amanhã, às dez horas da noite.
- Só as mães, ou as filhas também,
Majestade? - perguntaram as damas, torcendo para que fossem só as mães.
- Todas - disse a Rainha. - Eu disse
todas. Amanhã descobrirei o motivo
desses transtornos que estão acontecendo aqui no céu. E agora nem mais uma
palavra! Retirem-se!
Fernanda Lopes de Almeida
Nenhum comentário:
Postar um comentário