O POTE DE MEL







Um homem guardou o mel das abelhas num pote de barro. Tampou a boca do pote com um guardanapo por causa das moscas. Lembrou-se das formigas e do último ataque ao mel e aos doces que ele guardava no armário da cozinha.
Foi por causa dessa lembrança que ele resolveu proteger o seu pote de mel. Pegou uma bacia bem grande, encheu de água e colocou o pote bem no meio. Ficou satisfeito com a ideia porque formiga não sabe nadar.
- Eu só quero ver, suas danadinhas, vocês atravessarem a água para invadir meu pote de mel! – e soltou uma gargalhada pela ideia brilhante.
Deixou a bacia sobre uma mesinha, e partiu para o trabalho na sua roça de milho.
Uma formiga, que vadeava por ali, ouviu o homem e partiu para o formigueiro para espalhar a notícia. O formigueiro ficou alvoroçado.
- Como é que é? Não podemos mais pegar aquele mel gostoso para alimentar a nossa rainha? – perguntou uma formiga operária – Eu protesto! – gritou irritada.
Neste momento chegou o comandante do exército das formigas. A formiguinha, que espalhou a noticia, o levou para ver a situação do pote de mel.
- É, está difícil! Precisamos elaborar um plano. O pote é como um castelo medieval cercado por um fosso cheio de água que não se pode transpor.
Realmente, a bacia enorme cheia de água parecia, para as formigas, um mar imenso. O comandante mandou que uma formiga, soldado corneteiro, tocasse o toque de reunir. Assim foi feito.
- Todos estão presentes, meu comandante! Quais são as ordens? – quem assim falava era o sargento do batalhão florestal apresentando seus comandados prontos para obedecer. 
Depois foi a vez da infantaria com seus soldados treinados para defender os favos de mel dos fungos invasores; do pelotão dos rastreadores de doces; do pelotão das cortadeiras e finalmente o exército estava reunido. O comandante foi para o meio dos soldados, ajeitou o capacete, puxou do seu colete o mapa da cozinha, estendeu-o no chão e começou:
- Vejam, senhores! À direita fica o fogão, no centro fica a mesa grande com as seis cadeiras e, encostada na parede, fica a geladeira. Do lado esquerdo tem uma fruteira e logo a seguir vem a mesinha onde está o pote de mel. A porta da cozinha está sempre fechada, mas pelo vão, entre a porta e o chão, podemos passar nosso material. Usando o pé da mesa como elevador, levaremos o material para cima. Vamos construir uma ponte para chegar ao pote.
As formigas, divididas em batalhões, partiram em busca de material. Anoitecia quando o batalhão das formigas cortadeiras escalou o pé de mamão e começou a cortar as folhas. Era como se uma afiada tesoura estivesse picando as folhas do mamoeiro. O chão ficou coberto de folhas picadas. Um alerta foi emitido pelas cortadeiras. Chegaram as formigas carregadeiras para transportarem as folhas e depositá-las junto ao pé da mesinha.
O batalhão, das formigas arquitetas, apresentou aos engenheiros a planta da ponte que seria construída. O chefe dos engenheiros avaliou e aprovou a planta. Começou a construção. Cada pedaço de folha era erguido e carregado por duas formigas operárias subindo pela perna da mesinha. Deixavam as folhas ao lado da bacia e voltavam para buscar mais. Outra turma de operárias escalava a bacia e, ao chegar à borda, seguia as orientações da engenharia. Depois de um tempo a ponte ficou pronta. O comandante foi avisado e chegou para inspecionar a obra. O trabalho era uma maravilha. A ponte começava na borda da bacia e seguia em linha reta até encostar no pote de mel.
- Parabéns pelo magnífico trabalho. – disse o comandante - A ponte prima pela segurança. Nenhuma formiga cairá na água. Dou por inaugurada a ponte, podem começar a invasão.
E o exército de formigas chegou à ponte dando início à marcha rumo ao pote de mel. Escalaram o pote e entraram por baixo do guardanapo que o protegia das moscas. O dia amanheceu e o homem acordou. Depois da higiene pessoal ele foi para a cozinha. Quando abriu a porta, de olhos esbugalhados, gritou:
- Meu Deus! Não pode ser...
O pote estava coberto de formigas apressadas levando tudo que podiam para o formigueiro lá no fundo do quintal.
- As formigas são espertas, não é vovó?
- Sim, meu filho. Para a inteligência não há obstáculos.


Maria Hilda de Jesus Alão

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