A raposa viu que vinha vindo um cavalo carregado com cabaças cheias de mel de abelhas. Mais que depressa deitou-se no meio da estrada, fingindo-se de morta.
O tangerino parou e achou o bicho muito bonito. Não tendo tempo de esfolar, para aproveitar o pelo, sacudiu a raposa no meio da carga e seguiu viagem. Vai a raposa e se farta de mel, pulando depois para o chão e ganhou o mato. O homem ficou furioso mas não viu mais nem a sombra da raposa.
Dias depois a raposa encontrou a onça que a achou gorda e lustrosa. Perguntou se ela descobrira algum galinheiro.
— Qual galinheiro, camarada onça, minha gordura é de mel de abelha que dá força e coragem.
— Onde você encontrou tanto mel?
— Ora, nas cargas dos camboeiros que passam pela estrada.
— Quer me levar, camarada raposa?
— Com todo gosto. Vamos indo…
Levou a onça para a estrada, depois de muita volta, e ensinou a conversa. A onça deitou-se e ficou estirada, dura, fazendo que estava morta.
Quando o comboeiro avistou aquele bichão estendido na areia, ficou com os cabelos em pé e puxou logo pela sua garrucha. Não vendo a onça bulir, aproximou-se, cutucou-a com o cabo do chicote e gritou para os companheiros:
— Eh lá! Uma onça morta! Vamos tirar o couro.
Meteram a faca com vontade na onça que, meio esfolada, ganhou os matos, doida de raiva com a arteirice da raposa.
Em: Contos tradicionais do Brasil (folclore), Luís da Câmara Cascudo, Rio de Janeiro, Edições de Ouro: 1967
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